Boas Práticas nos Acessos Vasculares

Diogo Santos Silva, EESIP UCIPed; Rui Guerra, EESIP UCIPed; Marta Miranda, UCIPed

A manutenção dos acessos vasculares é reconhecida como intervenção autónoma de enfermagem (OE, 2020). A abordagem rigorosa neste cuidado é fundamental para reduzir a necessidade de punções repetidas e experiência de dor a elas associadas, diminuir os custos hospitalares, prevenir complicações, além de impedir a remoção precoce do cateter (Meto et al., 2024; Carr et al., 2021). As vantagens referidas são especialmente importantes no utente pediátrico. O enfermeiro, devidamente formado, assume um papel crucial na eficácia e segurança da terapêutica intravenosa, sendo a sua intervenção qualificada determinante para a excelência dos cuidados prestados.

Os acessos vasculares (centrais ou periféricos), frequentemente utilizados em contexto hospitalar, apresentam alguns riscos: infeções, tromboses e complicações mecânicas. As equipas de saúde devem estar atentas a estes riscos e saber como preveni-los. Para isso, focamos alguns pontos essenciais para melhorar os seus cuidados:


1. Vigilância do Cateter

• Vigilância de local de inserção através de pensos transparentes e semi-permeáveis;

• Não utilizar compressas sob o penso (impedem a visualização do local de inserção);

• Uso adequado de obturadores (pressão positiva e pressão neutra);

• Colocação de data de realização do penso;

• Correta identificação de tipo de cateter (Midline ou PICC);

• Registo de complicações como rubor, calor e dor.


2. Realização de Pensos

Segundo a norma sobre a prevenção de infeção em cateteres, o Ministério da Saúde (2022) recomenda a substituição do penso a cada 7 dias ou antes em caso de repasse ou perda de integridade. A substituição do obturador deve também ser ao 7º dia (Gorski et al., 2021).

Cuidados na troca de penso:

• Remover o penso seguindo as linhas naturais da pele (Linhas de Langer);

• Utilizar técnica non-touch e/ou esterilizada;

• Utilizar Cloro-hexidina e deixar secar bem a pele;

• Utilizar um protetor cutâneo;

• Aplicar o penso sem realizar tensão na pele;

• Colocar a data no penso e realizar registo apropriado.

Os pensos compressivos devem ser reavaliados e substituídos às 24 horas, por pensos que permitam ver os locais de inserção.


3. Manutenção de Cateteres

A manutenção otimiza a permeabilidade dos cateteres por mais tempo e a reduz complicações como a obstrução. A técnica de push-pause é essencial na sua prevenção.

Como realizo a técnica?

• Seringa de 10ml (pressão ideal).
• Administrar 2 ml, pausar e administrar novamente 2 ml. Efeito fluxo turbulento.

• Devo deixar pressão positiva manual no final (infundir e tirar logo a seringa).

Quando devo realizar?

• Antes e depois de cada medicação/infusão;

• A cada turno deve testar-se a permeabilidade e realizar lavagem do cateter;

• No contexto de domicílio (Midline e PICC’s) a cada 7 dias.

A desinfeção prévia das mãos e, posteriormente, dos obturadores e torneiras de 3 vias permite uma redução da taxa de infeção associada aos cateteres.

A identificação dos sistemas de administração e a sua substituição adequada: 72-96 horas – infusão contínua e 24h – infusão intermitente. (ULS Santa Maria, 2006).

Sempre que um cateter for substituído, todos os sistemas de perfusão, extensões e restantes acessórios deverão também ser trocados.


4. Substituição de Cateteres

Os cateteres devem ser substituídos sempre que forem identificados sinais evidentes de infeção local e/ou sistémica. Devem igualmente ser removidos os cateteres que não sejam considerados estritamente necessários.

A decisão de proceder à substituição deve ser criteriosamente avaliada antes da sua realização.

 

Bibliografia:

 

Associação Enfermagem Oncológica Portuguesa. (2021). Recomendação de boas práticas: Acessos vasculares centrais. Grupo de Trabalho Terapêuticas Sistémicas. https://www.enfermagemoncologica.pt

Campus Vygon. (2024, 26 de novembro). 6 Keys to proper care and maintenance of the CVC. Campus Vygon. https://campusvygon.com/global/proper-care-maintenance-cvc/

Campus Vygon. (2024, 20 de março). Midline catheter: placement and maintenance protocol. Campus Vygon. https://campusvygon.com/global/midline-catheter-placement-maintenance-protocol/campusvygon.com+5

Carr, A., Green, J. R., Benish, E., & Lanham, R., com estudos de caso por Kleidon, T., Freeney, L., & York, N. (2021). Midline venous catheters as an alternative to central line catheter placement: a product evaluation. British Journal of Nursing, 30(8, IV and Vascular Access Supplement), S10–S17.

Gorski, L. A., Hadaway, L., Hagle, M. E., McGoldrick, M., Orr, M., & Doellman, D. (2021). Infusion therapy standards of practice (8th ed.). Infusion Nurses Society.

Meto, E., Cabout, E., Rosay, H., Espinasse, F., Lot, A.-S., El Hajjam, M., Gnamien Clermont, S., & Launois, R. (2024). Cost comparison of four venous catheters: Short peripheral catheter, long peripheral line, midline, and PICC for peripheral infusion. The Journal of Vascular Access, 00(0), 1–9. https://doi.org/10.1177/11297298241258257

Ministério da Saúde. (2022). Norma Clínica n.º 022/2015 (Atualizada a 29 de agosto de 2022): Feixe de intervenções para a prevenção de infeção relacionada com o cateter vascular central. Gabinete do Secretário de Estado Adjunto e da Saúde. https://normas.dgs.pt

Ordem dos Enfermeiros. (2020). Introdução de Cateter Central de Inserção Periférica por Enfermeiros. Parecer do Conselho de Enfermagem nº29/2020, 5.

Unidade Local de Saúde de Santa Maria. (2006). Norma n.º 10: Dispositivos intravasculares. Gabinete de Controlo de Infeção e Resistência aos Antimicrobianos. Disponível em https://www.ulssm.min-saude.pt/media/k2/attachments/GCLPPCIRA/Norma_n_10_Dispostivos_intravasculares.pdf