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Nenhuma tinha a paixão de um dia vir a ser costureira. Mas a vida trouxe-as para esta profissão, que na ULS Santa Maria assume um caráter de missão. Não por salvar vidas, mas por salvar do lixo ou da destruição a roupa do hospital.
Cerca de três mil peças por mês saem remodeladas da sala do piso 01 do Hospital de Santa Maria onde trabalham as cinco costureiras da ULSSM. Todos os dias, entre as seis toneladas de roupa que vai para lavar, é feita uma triagem das peças danificadas com potencial de serem reaproveitadas, para o mesmo ou para outro fim.
Teresa Silva, diretora da Gestão Hoteleira, contabiliza as peças que são recicladas na sala de costura e, admite, ainda fica de “queixo caído quando olho para estes números”.
As calças e os casacos de pijama, os lençóis, resguardos e batas dos médicos, são as peças com maior intervenção. Centenas são recuperadas todos os meses.
Mas nem sempre foi assim. Na altura da pandemia de Covid-19, dada a carência a nível mundial numa primeira fase de equipamentos de segurança individual, sobretudo cogulas, perneiras e cotoveleiras, as costureiras estiveram nos bastidores a assumir um papel importante para a segurança das equipas na linha da frente. “Trabalharam de segunda a sábado, das 08h00 às 20h00, para proporcionar este material de segurança necessário aos profissionais da linha da frente que lidaram com a doença. Foi um trabalho feito com sentido de missão.”, salienta Teresa Silva. Este trabalho foi de tal forma importante que foi referência ao nível nacional através de reportagens nas televisões. “Estávamos numa guerra e tínhamos que lutar. Cada um lutou à sua maneira. Uns ao telefone, outros na linha da frente e outros na máquina de costura”, relembra.
Dar nova vida à roupa
Marisa Pereira, com 57 anos de idade, é a costureira mais antiga da ULSSM. Está no Serviço há 38 anos. No início, quando iniciou funções, a secção de costura integrava o espaço da lavandaria, até se autonomizar. Não se sabe ao certo como começou, mas Marisa, apesar de não conseguir falar, faz-se entender com a sua linguagem gestual, explicando que aprendeu com as colegas que já estavam no departamento. Na altura, eram cerca de 12 mulheres. Aprendeu rápido. E, como é perfeccionista, dedica-se muitas vezes aos trabalhos mais pormenorizados. “A roupa que vem do bloco, por exemplo, é mais minuciosa. A Marisa gosta desses trabalhos”, explica a coordenadora.
A colega do lado, Fernanda Santos, com 61 anos, 17 deles passados no Serviço de Gestão de Hotelaria, também tem muita experiência. Ao lado da sua mesa e da sua máquina de costura tem uma pilha de roupa que já intervencionou nesse dia. “Quando eu era mais nova dizia que nunca seria costureira”. A razão era porque tanto a mãe como a irmã eram costureiras. Começou na ULSSM no alojamento médico, onde esteve 10 anos. Entretanto, passou a ver a costura com outros olhos: “Cada peça é um desafio. Gosto de saber que estou a arranjar uma peça para não ir fora”. Por norma, as costureiras têm que ser muito criativas e aqui não é diferente, apesar de serem sempre os mesmos tecidos. “Quando uma peça já não dá para ser o que era, adaptamos para que possa ter outra vida”. Por exemplo, quando um lençol vem bastante danificado, o mais certo é passar a ser um resguardo.
Na linha de trás
Maria de Fátima Lopes também faz parte desta equipa. Entrou para a ULSSM há 34 anos. Começou como mensageira, mas há 18 anos ingressou na Gestão Hoteleira e, agora, já mais perto da idade da reforma, dedica-se a colocar os botões nos casacos e camisas. “Passo os meus dias nesta sala. Já me habituei a estar aqui com as colegas”.
A mais recente no serviço é Maria de Lurdes Isidoro, que só chegou aqui há sete meses. Também está há 16 anos no hospital. Trabalhava no internamento da Ortopedia, até passar para estafeta. Só depois foi para o Hospital Pulido Valente, para a área da fisioterapia. Entretanto, por motivos de saúde, veio para a costura. “Não sabia nada de costura, ainda menos mexer numa máquina. Aprendi tudo o que sei aqui. E agora gosto do que faço”.
A Gestão Hoteleira tem muitas áreas que não são visíveis. Como disse um dia um administrador deste Hospital, conta Teresa Silva, “nós somos como as formigas, que ninguém vê, mas estamos sempre a trabalhar”. Um trabalho essencial para um objetivo que é comum a toda a instituição: prestar o melhor cuidado aos nossos utentes.