App my Santa Maria
“VMER Santa Maria? VMER Santa Maria, bom dia!?”. Senhora, 90 anos, encontrada caída numa berma na estrada. “Parecem-me muitas escoriações para uma queda. Vamos ver…”, antecipa o médico anestesista Alexandre Caldeira, escalado para este turno que iniciou às 08h00 da manhã do dia 23 de julho.
Desta vez, o pedido de ajuda partiu de Mafra, concelho que faz parte da área de influência da ULS Santa Maria. Todos os segundos contam, pelo que o também coordenador da Viatura Médica de Emergência e Reanimação de Santa Maria e o enfermeiro Lino Pereira, que trabalha na Urgência Central da ULS Santa Maria, pegam de forma já muito treinada nas malas, que antes reabasteceram de material clínico e seguem ágeis para a VMER.
“Vamos lá então”, diz o enfermeiro Lino Pereira, que colabora há 21 anos com o serviço do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM), ao dirigir-se para a viatura, companheira de muitas viagens.
Cerca de 15 a 20 minutos depois, já lá estava a ambulância de Mafra, com os técnicos de emergência pré-hospitalar a prestar o primeiro apoio. Rapidamente, a mala azul sai da viatura do INEM e a equipa entra em ação. “O objetivo é estabilizar a doente o mais rápido possível, para que possa ser transportada com a máxima segurança e receber o tratamento mais adequado no hospital”, referem os especialistas ainda no caminho.
“D.ª Maria, lembra-se de ter caído?”, pergunta o médico. Apesar de estar consciente e colaborativa nas respostas, a doente não conseguiu precisar o que aconteceu. Hematomas, suspeita de fraturas, traumatismo craniano. Inspira cuidados, pelo que tem que ser acompanhada pelo médico na ambulância até ao Hospital de Santa Maria.
Chegada à urgência, continuou seguida pela equipa do INEM até que fosse passado o processo. E algumas horas depois, os dois profissionais de saúde ainda continuam a procurar informações sobre o estado da senhora que saiu de manhã para ir à missa. Algo que poucos imaginam que aconteça e que faz todo o sentido quando conhecemos as motivações de quem abraça este serviço.
“Tem traumatismo e fratura no braço e no nariz. Também já está a ser suturada. Estava mesmo maltratada, mas revelou ser muito rija”, congratula-se Alexandre Caldeira, que quis saber mais sobre a doente através do sistema de informação.
“Chamou o INEM?”
O serviço da VMER iniciou a sua atividade na ULSSM há 21 anos, tendo há cerca de um ano inaugurado as novas instalações junto à saída do hospital, onde se reúnem as equipas e trocam de turnos.
Hoje, os dois elementos ao serviço do INEM conseguiram almoçar, sempre de rádio na mão. “Muitas vezes, temos que deixar o almoço e seguir viagem”. Já depois das 14h00, uma nova ocorrência. Assim que o rádio chama, cada um avança para o seu computador. O médico recebe a triagem e o enfermeiro vê a localização. “É já aqui, vamos!”, indica Lino Pereira.
Um rapaz com 22 anos parece estar alterado e pode ter convulsões. Minutos depois: “Chamou o INEM?”. José (nome fictício) foi transportado ao hospital, mas não inspira preocupação maior. “Foi medicado e rapidamente respondeu ao tratamento e acalmou”, sublinha o médico.
Nem todas as situações são elegíveis para o INEM, mas nem sempre é fácil auferir essa elegibilidade. “Em cerca de 50 por cento dos casos, não seria necessário chamar-nos, mas só o confirmamos no terreno”, refere Alexandre Caldeira.
Se este foi um dia com duas ocorrências, nem sempre assim acontece. Por norma, registam-se dez saídas diárias: quatro de manhã, outras quatro à tarde e duas à noite, em 90 turnos por mês.
Neste momento, existem 43 médicos disponíveis para fazer escalas. “Este trabalho é feito nas horas extra do serviço no hospital, pelo que as escalas dependem da disponibilidade proporcionada pelo serviço de origem destes especialistas”. Os enfermeiros são 21 e fazem quatro a cinco turnos por mês. “Há muitos enfermeiros interessados em ter formação. No nosso caso, acresce a formação em condução, porque é o enfermeiro que conduz a viatura”. Lino Pereira salienta que vale a pena: “Somos uns privilegiados. Entramos na casa das pessoas, na vida das pessoas, e, no fim do dia, sabemos que fazemos a diferença”.
No Inverno, por exemplo, há mais ocorrências, muitas delas relacionadas com os problemas respiratórios. Entre janeiro e maio deste ano, contaram-se 1371 acionamentos. No ano passado, registou-se um total de 2795, cinco por cento dos quais da via verde coronária.
No ano passado, a maior parte das ocorrências aconteceram de manhã, 1353, contra 958 registadas à tarde. À noite, em 2024, houve um total de 484 pedidos de ajuda. Sabe-se também que quase metade dos acionamentos destinam-se a acorrer pessoas com 65 anos ou mais, sendo a segunda faixa etária com mais pedidos as pessoas entre os 17 e os 64 anos. “As faixas etárias para as quais nunca queremos ser chamados é para as mais baixas. Felizmente, a mala verde, destinada à pediatria, é a que abrimos menos”, sublinha Alexandre Caldeira.
Para o INEM não há Natal, Passagem de Ano ou Páscoa. Funciona todos os dias do ano. Dia sim, dia sim, contamos com as equipas de médicos e enfermeiros da VMER de Santa Maria, para fazerem o que melhor sabem. As pessoas em geral, mas sobretudo os profissionais de saúde e colegas reconhecem o seu altruísmo e sentido de missão. Mas não é demais enaltecer quem todos os dias sai de casa para salvar as nossas vidas.