App my Santa Maria
Quem nunca andou no Shuttle, Vanete ou Naveta, como preferirem, pelo menos já viu passar vezes sem conta a carrinha amarela de transporte de pessoas e mercadorias que circula de hora a hora entre o Hospital de Santa Maria e o Pulido Valente. A curiosidade e a importância deste nosso serviço levaram-nos a passar um dia naquele percurso, para conhecer os rostos de quem mais ali viaja e presenciarmos de perto as narrativas e conversas que ali acontecem.
Para nos guiar, Nuno Andrade, que só por si tem uma história para contar: “iniciei as minhas funções a 28 de abril, dia do apagão que todos se recordam”. O trabalho começou, como sempre, às 08h30 da manhã. Umas horas depois e após a falha de eletricidade, Nuno acabou por ir buscar um informático da ULSSM, que tinha feito uma deslocação a Mafra para dar apoio àquela Unidade de Saúde e que não chegou a prestar o serviço. Um primeiro dia atípico e marcante, para quem depois disso, nenhum é igual ao outro.
Muitas caras são-lhe já familiares, algumas fazem o caminho quase diariamente. Ou porque fazem turnos num lado e noutro ou porque vêm a reuniões ou visitar outros serviços. Outros são rostos ocasionais.
Mas não são apenas pessoas que circulam na Naveta. Além de documentos, muitos materiais e até análises clínicas fazem o trajeto. Assim que chegamos ao edifício D. Carlos, César vem à porta da carrinha. “Quase todos os dias venho recolher material, neste caso material cirúrgico para o bloco, desta vez para a Ortopedia”.
Lotação esgotada
Esta já não é a primeira carrinha a cumprir esta missão. Iniciou o serviço há quatro ou cinco anos atrás, mas já tinha transportado doentes. O coordenador e responsável pelos serviços da garagem, Eduardo Carriço tem recordações desse tempo. “A Nissan foi-nos cedida para o serviço e funcionou até ir para abate. Era branca, com listas amarelas”.
Parece pequeno, mas o trajeto é de cinco quilómetros para cada lado, dez em cada volta completa. No total, o Shuttle contabiliza oito voltas diárias (quatro de manhã para lá a começar às 08h30 e quatro para cá à hora certa, dado que à tarde inverte-se o horário e a última saída é às 16h45 do HPV) num total de 70 quilómetros por dia, cerca de 25.000 por ano.
Antes da recolha de novos passageiros no Santa Maria, Nuno passa pela garagem, onde deixa material para a patologia clínica recolher. Também peças da loja de ortopedia Super Ajudas. “Temos sempre encomendas da loja do HPV para a do Santa Maria. Calçado, roupa e outras coisas necessárias”.
A viagem das 10h30 ia cheia. A dietista do HPV, Ana Martins, veio dar sangue. Tiago, da informática, vai dar assistência a três impressoras de diferentes serviços. E Rui Filipe, da área logística e hoteleira, vai reunir sobre uma reclamação de um ramo de uma árvore que caiu em cima de um carro de um utente e também sobre questões relacionadas com a relva do hospital.
Para cá vem a técnica Fátima, da anatomia patológica, que trabalha no tratamento de culturas no setor da tuberculose do laboratório. “Quando consigo acabar cedo ainda apanho a última Naveta para lá, caso contrário vou de metro”.
Passar pela garagem
Mais uma voltinha à garagem para troca de envelopes e mercadoria. “Tento não ter stresse, sobretudo nesta altura sem trânsito, mas prefiro cumprir o horário”. Por isso, agora já depois de almoço, seguimos para a rampa, para apanhar mais colegas.
“Tem bilhete?” pergunta com graça alguém do hospital. Duas fisioterapeutas vieram para uma reunião de preparação para o Dia da Fisioterapia, que será a 8 de setembro.
E a primeira médica do dia, a pneumologista Patrícia Trindade também vem à boleia depois de um turno nas urgências, que faz quase todas as semanas. “Agora ainda vou terminar o serviço no Hospital de Dia de Pneumologia Oncológica”.
O motorista conhece muitas das caras que transporta. Como é o caso de Carlos Magalhães do departamento financeiro da ULSSM, que vem ao HPV dia sim dia não. “Venho na penúltima volta e regresso na última, depois de contabilizar a vertente financeira, referente ao parque de estacionamento ou das consultas, por exemplo”.
Apanhar a Naveta é cruzar as diferentes caras e profissões da ULSSM. É ser surpreendido pela sua utilidade e quantidade de pessoas e mercadorias transportadas entre os dois hospitais. Uma viagem para quando é preciso. Um momento diferente no dia que pode ser uma pausa relaxante, animado ou produtivo, mas nunca, nunca é igual.