INTERVENÇÕES PROMOTORAS DO SONO EM CONTEXTO DE INTERNAMENTO HOSPITALAR E DOMICILIÁRIO

 

Sandra Laia Esteves, EEEC na ULS Santa Maria, UCC Integrar na Saúde

Existe uma forte relação entre o sono e a saúde — uma má qualidade de sono e repouso aumentam o risco de desenvolvimento de problemas de saúde, tal como os problemas de saúde têm influência negativa sobre a forma como a pessoa repousa. São diversos fatores como o bem-estar, o ambiente e estilo de vida da pessoa que desempenham um papel determinante na forma como esta consegue relaxar (Tiruvoipati et al., 2020).

A pessoa em contexto de internamento hospitalar sofre uma alteração no seu padrão de sono e repouso, esta situação pode potenciar um agravamento do seu estado clínico, gerando sentimentos de confusão, frustração e depressão, bem como um aumento da sensibilidade à dor, problemas a nível cognitivo, metabólico e imunológico (Davidson et al., 2021; Grimm, 2020).

A etiologia dos problemas de sono da pessoa internada em contexto hospitalar é multifatorial, incluindo: fatores internos à pessoa (como a sua situação clínica, a sua dor e ansiedade) e os fatores externos (relacionados com o ambiente envolvente). Sendo que todos estes desempenham um papel fundamental no processo de recuperação da pessoa com doença (Aydın Sayılan et al., 2021; Grimm, 2020; Younis et al., 2020).

A literatura científica reporta-nos que ainda existe uma diferença entre a perceção da qualidade e quantidade de sono e repouso que a pessoa internada sente, em relação àquilo que é observado pelos profissionais de saúde (Ramos et al., 2020; Elías et al., 2020). Segundo a visão dos Profissionais de Saúde a pessoa com doença pode aparentemente ter tido um sono reparador, mas na verdade esta pode acordar sem se sentir repousada, porque apesar de ter permanecido de olhos fechados durante o seu período de repouso, a qualidade do seu sono é constantemente interrompida por determinados fatores (Aydın Sayılan et al., 2021; Grimm, 2020), como:

  • Ruído e luminosidade emitidos pelos equipamentos tecnológicos;
  • Intervenções dos Profissionais de Saúde (como a administração e/ou suspensão da medicação inibindo assim o seu ciclo de sono);
  • Presença dos Profissionais de Saúde no quarto ou a circularem pelos corredores do serviço de internamento;
  • Conversas entre profissionais e outros utentes internados;
  • Partilha do quarto de internamento com outros utentes.

O papel dos profissionais de saúde é preponderante conhecer a pessoa alvo de cuidados e saber adequar as suas intervenções às rotinas de sono e repouso da mesma, tendo em consideração o contexto onde estão inseridas. Assim, torna-se fulcral a ação dos profissionais de saúde, no intuito de minimizar os estímulos responsáveis por estas alterações. Cabe aos profissionais de saúde implementarem estratégias promotoras de sono e repouso que contribuam para uma melhor qualidade de vida das pessoas alvo de cuidados.

ESTRATÉGIAS PROMOTORAS DE SONO EM CONTEXTO DE INTERNAMENTO HOSPITALAR:

  • Elaborar Plano de Cuidados individualizado: gestão da regulação do ritmo circadiano e criação de rotinas adaptadas à pessoa alvo de cuidados;
  • Gerir eficaz e adequada medicação (implementar estratégias farmacológicas e não farmacológicas: controlo da dor, redução da sedação durante o dia e execução de técnicas de relaxamento, como massagem, musicoterapia/aromaterapia);
  • Minimizar o ruído e luminosidade (volume dos alarmes dos monitores/ equipamentos tecnológicos);
  • Incentivar o uso de auxiliares de baixo custo que facilitam o descanso físico e a abstenção dos estímulos externos, por limitação sensorial (como tampões nos ouvidos e máscara ocular);
  • Promover a estimulação cognitiva durante o dia (mobilizações no leito ou fora dele, ajudam na estimulação da pessoa internada durante o dia, para que à noite se sinta naturalmente mais cansada);
  • Colocar relógio e calendário próximo da pessoa (ajudam na reorientação diária);
  • Reduzir a ansiedade e medo (a conversa com familiares e profissionais estimula, ajudando a reduzir o seu medo e ansiedade, sentindo-se mais apoiada) (Ramos et al., 2020; Darby et al., 2021).

ESTRATÉGIAS PROMOTORAS DO SONO EM CONTEXTO DOMICILIÁRIO

Os nossos comportamentos durante o dia e, em particular antes de dormir, podem ter um grande impacto na qualidade do sono. Para se conseguir garantir uma melhor qualidade do sono, sugerimos que adote algumas estratégias:

  • Cumprir um horário de sono regular: Deite-se e levante-se à mesma hora, todos os dias mesmo aos fins-de-semana ou férias.
  • Estabelecer rituais do sono: Tome um banho de água morna (a elevação, depois a queda na temperatura do corpo promove a sonolência), leia um livro, pratique exercícios de relaxamento ou beba um copo de leite morno / chá relaxante).
  • Promover o ambiente do quarto confortável: Eliminar ruídos, reduzir a luminosidade e com temperatura adequada (entre 18 a 20ºC).
  • Equilibrar a ingestão de líquidos: Evitar ingerir líquidos ao final da tarde e início da noite.
  • Optar por uma alimentação saudável: Aconselha-se jantar pelo menos 2 horas antes de se deitar, evitar refeições pesadas ou a sensação de fome, bebidas refrigerantes, cafeína e álcool.
  • Exercício Físico: Evitar exercício físico muito vigoroso com cerca de 4 horas de antecedência da hora de deitar.
  • Desligar os equipamentos eletrónicos (telemóveis, tablets, computadores, televisão, outros): Aconselha-se a desligar 1 hora antes de dormir e deixá-los fora do quarto.
  • Sestas: A sesta é uma boa maneira de compensar o sono perdido, limitar até 15 a 20 minutos e ao início da tarde. Em caso de dificuldade em adormecer ou permanecer acordado durante à noite, tente não dormir a sesta (Associação Portuguesa do Sono, 2024).

REFERÊNCIAS

Associação Portuguesa do Sono (2024). https://www.apsono.com/pt/noticias/noticias-do-sono/24-noticias/noticias-do-sono/399-como-posso-dormir

Aydın Sayılan, A., Kulakaç, N., & Sayılan, S. (2021). The effects of noise levels on pain, anxiety, and sleep in patients. Nursing in Critical Care, 26(2), 79–85. https://doi.org/10.1111/nicc.12525

Davidson, S., Villarroel, M., Harford, M., Finnegan, E., Jorge, J., Young, D., Watkinson, P., & Tarassenko, L. (2021). Day-to-day progression of vital-sign circadian rhythms in the intensive care unit. Critical Care, 25(1), 1–14. https://doi.org/10.1111/nicc.12525

Darby, A., Northam, K., Austin, C. A., Chang, L., & Campbell-Bright, S. (2021). Development and Implementation of a Multicomponent Protocol to Promote Sleep and Reduce Delirium in a Medical Intensive Care Unit. Annals of Pharmacotherapy. https://doi.org/10.1177/10600280211043278

Elías, M. N., Munro, C. L., Liang, Z., Padilla Fortunatti, C. F., Calero, K., & Ji, M. (2020). Nighttime Sleep Duration Is Associated with Length of Stay Outcomes among Older Adult Survivors of Critical Illness. Dimensions of Critical Care Nursing, 39(3), 145–154. https://doi.org/10.1097/DCC.0000000000000411

Grimm, J. (2020). Sleep deprivation in the intensive care patient. Critical Care Nurse, 40(2), e16–e24. https://doi.org/10.4037/ccn2020939

Ramos, F. J., Taniguchi da Silva, L. U., & de Azevedo, L. C. P. (2020). Practices for promoting sleep in intensive care units in Brazil: A national survey. Revista Brasileira de Terapia Intensiva, 32(2), 268–276. https://doi.org/10.5935/0103-507X.20200043

Tiruvoipati, R., Mulder, J., & Haji, K. (2020). Improving Sleep in Intensive Care Unit: An Overview of Diagnostic and Therapeutic Options. Journal of Patient Experience, 7(5), 697–702. https://doi.org/10.1177/2374373519882234

Younis, M. B., Hayajneh, F., & Rubbai, Y. (2020). Factors influencing sleep quality

among Jordanian intensive care patients. British Journal of Nursing, 29(5), 298–302. https://doi.org/10.12968/bjon.2020.29.5.298