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Uma boa notícia a partir da ULS Santa Maria neste Dia Mundial da Pessoa Surda, que se comemora no último domingo de Setembro, e numa semana em que se assinalou o Dia Nacional. Uma equipa multidisciplinar liderada pelo Serviço de Otorrinolaringologia da ULSSM colocou mais um implante coclear, das cerca de quarenta dezenas de cirurgias que realiza todos os anos nesta área, desta vez a uma criança de dois anos, que passa agora a poder ouvir sons que nunca teve oportunidade de conhecer.
“Podem ligar as luzes por favor?”. Após um tempo de preparação, a equipa está pronta para a cirurgia. Trata-se da colocação de um dispositivo médico eletrónico que restaura a audição severa e profunda, através do estímulo do nervo auditivo. O som é captado e convertido em sinais elétricos que os levam ao cérebro e este reage e interpreta os sons do ambiente.
No caso da pequena Sofia, ouvir será um processo progressivo de aprendizagem. “Vamos programando o dispositivo e ajustando os sons de forma gradual, como seria se ela tivesse ouvido à nascença e, mesmo, ainda dentro da barriga da mãe”. Daqui a poucos meses, “acredito que esteja a ouvir o que se passa à volta dela”, explica o diretor do serviço de otorrinolaringologia da ULSSM, Leonel Luís.
Mesmo antes de entrar para o bloco, enquanto se prepara e lava as mãos, o cirurgião confessa que a responsabilidade para com estas crianças e famílias pesa sempre. “Tudo o que eu fizer agora determina para sempre a vida desta criança e dos pais”.
Já sob o profundo efeito da anestesia, Sofia adormeceu a ver o Panda no televisor. “Anestesiamos crianças todas as semanas aqui no bloco, mas, no geral, por menos horas. Este procedimento requer um pouco mais de complexidade também pela sua idade, inferior a três anos. Mas há aqui já também um grau de confiança e experiência, pelo que acaba por ser rotina”, salienta a anestesiologista Joana Duarte, que contou com o apoio da interna Cláudia Martins neste procedimento.
Equipa diferenciada
A colocação do implante acontece já depois das 12h00. Mas o foco e a concentração mantêm-se durante várias horas. Todas as pessoas na sala “têm um papel diferenciado e essencial”. O enfermeiro Vítor Imperadeiro, por exemplo, está sempre atento. “Nesta função é importante conhecer o material e tentar sempre antecipar o que o cirurgião precisa. Quando ele levanta a mão já lá está o instrumento”.
Além do instrumentista, mais duas enfermeiras estão presentes, a enfermeira circulante e a que acompanha a criança, desde a preparação ao pós-operatório.
Estimular a audição
Os pais da Sofia aguardam na sala de espera. Em maio, foi colocado o primeiro implante coclear do outro lado. Ainda não há reação, mas Liliana e André sabem que é mesmo assim. “A idade auditiva dela é de dois meses. Há um grande trabalho a partir de agora, para estimular a audição da nossa filha”. Por volta de um ano de idade, os pais detetaram que Sofia não respondia aos sons, desde então, o caminho foi chegar ao dia de hoje e ao segundo implante. “Temos essa expetativa de que ela comece a reagir a um som alto ou um bater de porta. Até agora ainda não notámos, mas tendo em conta que está tudo bem temos que esperar mais um bocadinho”.
Pelas 13h30, a equipa médica conclui o procedimento. Para esta família, há agora um trabalho de acompanhamento e terapia auditiva e verbal. Após a cicatrização que dura cerca de um mês, há lugar à programação do dispositivo. Entretanto, “há que estimular todos os dias, mesmo que seja pouco, de forma a que o progresso seja mais eficaz”. Agora, após a rápida recuperação, como se vê na manhã seguinte à operação, com a Sofia pronta para a brincadeira, uma nova fase de expetativa: “O dia de hoje é um marco que muda a nossa vida”.
Para esta equipa especializada é tempo de pausa e começar a pensar no próximo doente a beneficiar de um implante coclear. Um trabalho que alia conhecimento, experiência e paixão e que muito contribui para que este seja há já vários anos um centro de referência nesta área em Portugal.