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Tal como nós, também ela fica cansada no final da jornada. Mas percebe-se que adora o que faz e não podia ser mais feliz neste serviço. Inês Chambel, psicóloga clínica que faz dupla com a Nairobi, a sua labrador castanha nas visitas às unidades do Departamento de Pediatria da ULS Santa Maria, através da Associação Ânimas, que iniciou este projeto, confirma: “Basta olhar para ela e percebe-se que sabe o que está a fazer. Está aqui para dar e receber amor”.
A visita de hoje deu início à abertura das portas de mais um serviço, o de Medicina Pediátrica, no 6º piso de Santa Maria, a receber a visita da Ânimas. Mas estas presenças já são habituais nos Cuidados Intensivos, às segundas feiras, pelas 14h00. Nesta parceria, que contou com a importante dinamização da Equipa de Educação da ULSSM, está ainda incluída a Pedopsiquiatria, no Hospital Pulido Valente, de quinze em quinze dias, alternando com a da UCIPED.
Além da Nairobi, também a Jamaica, igualmente labrador, de cor creme, foi treinada para o efeito e faz o mesmo serviço. Cabe à cuidadora escolher em cada dia a sua parceira.
Ao chegar pela manhã, Nairobi começa logo a desempenhar a sua função, na passagem para o elevador, porque é vista pelas crianças da urgência. “A Nairobi começa a trabalhar antes de entrar na unidade”. As crianças não ficam indiferentes, mas os pais, técnicos e até os médicos e os enfermeiros rendem-se a esta presença, recebida por todos à chegada. Como se de uma estrela se tratasse, segue-se a primeira sessão de fotos e selfies com os profissionais de saúde. Entretanto, é conveniente limpá-la com toalhetes desinfetantes próprios para animais. Só depois se dá início às visitas.
Interação com crianças
Primeiro, na sala de brincadeiras, onde estão as crianças que podem manter algumas das atividades. Carla e Madalena, avançam de imediato para as festas e mimos. A Nairobi agradeceu com o seu melhor ar e algumas lambidelas.
Após o momento inicial da visita, as crianças estavam muito tranquilas com a interação. “Os estudos indicam que as crianças e jovens ficam muito mais relaxadas na presença destes animais, sendo transmitidas mensagens positivas que conferem uma enorme sensação de bem-estar”. O impacto nos mais novos em internamento é muito positivo. Segundo os especialistas da Ânimas, até ao nível da dor, tanto na dor pós-cirúrgica como na dor crónica, estas intervenções com animais contribuem para a sua perceção positiva.
Estas intervenções assistidas com animais também se revelam eficazes ao nível da diminuição do stresse e da ansiedade dos mais novos.
Assim que avançamos pelo corredor, ouvimos o choro de uma criança de cerca de três anos. Ao sentir a presença da Nairobi, o silêncio instala-se e foi trocado pela curiosidade. Hossana quis o colo da mãe para ver de perto a cadela, mas logo depois avançou para ficar perto e interagir, já sem qualquer receio.
O pequeno Artur, de apenas um ano, adormeceu à espera desta visita especial, com as fotografias da Nairobi na mão. A labrador não resistiu e conseguiu despertar o bebé, que não podia ter melhor reação. “Esta presença não serve apenas para as crianças. Para os pais é muito importante. Arrancar um sorriso a todos é muito terapêutico”, salienta a psicóloga.
Envolver a família
Mais um quarto, desta vez o da Maria Inês. Muito educada, a Nairobi esperou que a dona estendesse a manta que traz consigo e subiu para a cama e ali ficou ao lado da menina, com a calma que lhe é característica. Foi fácil despertar o carinho de toda a família, que desfrutou de um momento de tranquilidade.
A Carminho tinha um tratamento para fazer e, por isso, a Nairobi acompanhou-a pelo corredor até ao quarto para iniciar essa abordagem. Com esta presença ao lado, a distração foi muito maior em relação ao procedimento que tinha para fazer.
Um dia vai reformar-se, mas para já tem seis anos e presta um serviço de excelência. Inês Chambel frequentou um curso de formação realizado pela Ânimas, no sentido de formar esta dupla de intervenção assistida. Este curso realiza-se no Porto, sede da associação, todos os fins de semana, incluindo a cadela, uma vez que contempla uma vertente prática muito significativa. “A prática é essencial para se poder implementar com qualidade e segurança as intervenções assistidas por animais”.
No final de uma manhã intensa de visitas, Nairobi tem que descansar. Para um animal, este trabalho é exigente. A recompensa é gratificante, sobretudo tendo em conta os sorrisos arrancados a quem com ela se envolveu. Não sabemos se melhoraram a sua Saúde, mas de certo que lhes deu um ânimo diferente. Um contributo na humanização dos cuidados prestados aos doentes, neste caso das crianças e jovens em internamento hospitalar.