ARTIGO DE OPINIÃO

 

MOBBING NOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE E O SEU IMPACTO NA QUALIDADE DOS CUIDADOS PRESTADOS

O mobbing, comumente conhecido como assédio moral no trabalho, é um fenómeno…

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INTERVENÇÃO TERAPÊUTICA – “AR PURO”

Nas intervenções ocupacionais, embora não se alcance registos formais na história…

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Follow-up Telefónico: cuidar com presença, mesmo à distância

A continuidade de cuidados após a alta clínica é um dos maiores desafios…

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MOBBING NOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE E O SEU IMPACTO NA QUALIDADE DOS CUIDADOS PRESTADOS

 

José Hermínio Gomes

Cláudia de Jesus Lameira

Enfermeira Especialista em Saúde Mental e Psiquiátrica

Núcleo de Saúde Mental e Psiquiátrica da ULSSM

O mobbing, comumente conhecido como assédio moral no trabalho, é um fenómeno preocupante, especialmente no setor da saúde. Caracteriza-se por comportamentos repetitivos de humilhação, desvalorização ou intimidação, com o objetivo de enfraquecer ou isolar a vítima no ambiente profissional.

Em instituições de saúde, onde o trabalho em equipa, a comunicação e o equilíbrio emocional são essenciais, o mobbing compromete não só o bem-estar dos profissionais, mas também a qualidade dos cuidados prestados aos doentes. A exposição prolongada a essas situações leva a consequências sérias, como perda de confiança, ansiedade, depressão, burnout, doenças físicas, absentismo, rotatividade elevada e até intenção de abandono da profissão.

Para além dos efeitos individuais, o assédio moral prejudica a dinâmica das equipas, afeta o clima organizacional e coloca em risco a segurança dos utentes. Um profissional emocionalmente desgastado pode ter maior dificuldade em tomar decisões clínicas adequadas, o que pode comprometer a eficácia dos cuidados.

Perante este cenário, torna-se essencial a implementação de medidas eficazes de prevenção e combate ao mobbing. As instituições de saúde devem adotar políticas claras de tolerância zero ao assédio, criar canais de denúncia seguros e garantir que as situações reportadas sejam investigadas de forma justa e célere. A liderança tem um papel crucial neste processo, sendo fundamental que as chefias estejam capacitadas para identificar sinais de mobbing, intervir adequadamente e promover ambientes de respeito e cooperação.

Além disso, é importante investir em ações de promoção do bem-estar organizacional, como apoio psicológico, valorização profissional e incentivo a uma cultura de diálogo e empatia. Ambientes de trabalho saudáveis favorecem o desempenho, a motivação e a segurança dos cuidados prestados.

Em suma, o combate ao mobbing não se limita à proteção do trabalhador, mas representa um passo fundamental para assegurar cuidados de saúde seguros, humanizados e de qualidade. Proteger o profissional de saúde é proteger o próprio sistema de saúde, mantendo a saúde mental de todos os profissionais envolvidos.

 

 


INTERVENÇÃO TERAPÊUTICA – “AR PURO”

 

Rui Cavaleiro

Enfermeiro Especialista em Saúde Mental e Psiquiátrica da ULSSM

Professor Universitário

Nas intervenções ocupacionais, embora não se alcance registos formais na história antes do início do séc. XX, já na antiguidade existiram algumas referências que indicam as origens e as vantagens da ocupação como processo terapêutico.

Os Chineses (2600 a.C.) ” consideravam que a doença resultava da inatividade física e utilizavam o treino físico como terapia”, os Egípcios deixaram “vestígios que revelam a utilização de templos onde as pessoas melancólicas eram tratadas recorrendo a jogos e onde se defendia a aplicação do tempo em ocupações agradáveis”, na Grécia antiga, as cantigas, a música e a dramatização eram utilizadas na cura dos delírios.

Já Pinel prescrevia exercícios físicos e ocupações manuais como forma de terapia.

A prática de atividade física está associada não só à melhoria da saúde física, como também da saúde mental, segundo Pereira C. (2013). Já em 1972 o estudo de Vries e Adams mostrou que uma simples sessão de exercício (caminhada) foi tão eficaz na redução da tensão quanto um tranquilizante, e que o efeito do exercício foi mais duradouro que a aplicação de hormonas como a insulina. Outros estudos demonstram que a prática regular de atividade física pode aumentar a energia, melhorar o sono e o humor.

Para os clientes internados em serviços de saúde mental a possibilidade de participação em projetos que vão além da estrutura física dos serviços, ou seja na comunidade, representa uma enorme otimização da qualidade de vida e antevê um melhor prognóstico na recuperação e tratamento.

Assim, no serviço de internamento de Psiquiatria e Saúde Mental da nossa instituição tornam-se evidentes as limitações físicas contrárias ao perfeito tratamento de clientes com este género de diagnósticos.

A alteração recente com obras gerais no serviço não conseguiu colmatar algumas necessidades dos clientes. Algumas áreas geográficas de resposta do serviço são afastadas, tornando ainda mais premente estas intervenções, pois, a distância a que os familiares se encontram inviabiliza, muitas vezes por situação económica ou de transporte, a visita de familiares.

As queixas recorrentes dos clientes sobre a necessidade de “ar puro”, “sentirem-se presos” levam os profissionais a adotar estratégias para tentar solucionar estas questões. As caminhadas pontuais ao exterior, promovem essa socialização, essa necessidade psíquica de sair do espaço físico, contribuindo para a melhoria do seu estado e tratamento, mas são manifestamente insuficientes. A realização de parcerias com entidades que nos possam receber durante duas ou três horas em formato de visita/tour, quer sejam museus, jardins, entidades desportivas, entre outras, são perfeitas para clientes que estejam mais estáveis a nível do seu processo psicopatológico.

 

 


FOLLOW-UP TELEFÓNICO: CUIDAR COM PRESENÇA, MESMO À DISTÂNCIA

 

Susana Romão

Enfermeira Especialista em Saúde Mental e Psiquiátrica na ULSSM

ULS Santa Maria

A continuidade de cuidados após a alta clínica é um dos maiores desafios na área da saúde mental. O período entre internamento e a primeira consulta em ambulatório é, muitas vezes, marcado por vulnerabilidade e receios. É também nessa fase que se verifica maior risco de descontinuidade terapêutica, comprometendo a estabilidade clínica conquistada durante o internamento. Garantir um acompanhamento próximo e consistente neste intervalo é, portanto, fundamental para consolidar a recuperação e promover uma reintegração segura sustentada na comunidade.

Acredito que a recuperação em saúde mental não termina no momento da alta clínica. Esse momento é, antes, o início de uma nova etapa, que tantas vezes é frágil quanto determinante. Foi esta convicção que me levou a interessar-me pela temática do Follow-up Telefónico como uma iniciativa que procura garantir acompanhamento do doente desde a alta até à consulta, com o objetivo de orientar e motivar no seu percurso de reabilitação.

A experiência diária permitiu-me observar que muitos doentes, após a alta, enfrentavam dificuldades em manter a adesão ao tratamento: abandonam a medicação, faltam às consultas ou, em casos mais graves, regressam a comportamentos de risco. Estas situações comprometem o processo terapêutico e contribuem para reinternamentos sucessivos e agravamento das condições clínicas, o que revela uma lacuna na continuidade dos cuidados.

O Follow-up Telefónico no Serviço de Saúde Mental e Psiquiatria – Enfermaria II foi desenvolvido partindo de uma necessidade prática e da convicção de que um contacto simples, próximo e orientado, realizado por um enfermeiro, pode fazer a diferença entre uma recaída e uma recuperação estável. Esta abordagem cria uma ponte entre o internamento e a vida em ambulatório, reforçando a confiança, esclarecendo dúvidas, promovendo a adesão terapêutica.

Mais do que uma estratégia clínica, este projeto representa uma forma de cuidar com continuidade, reconhecendo que o apoio emocional e educativo é essencial para o sucesso terapêutico. O acompanhamento telefónico não substitui a presença física, mas prolonga o cuidado para além das paredes do hospital, humanizando a relação entre enfermeiro e doente e fortalecendo o sentimento de segurança e responsabilidade no autocuidado.

Acredito que investir em modelos de acompanhamento como este, é investir na verdadeira recuperação em saúde mental. A continuidade do cuidado, aliada à empatia e à comunicação, traduz-se em melhores taxas de adesão terapêutica, menor número de reinternamentos e maior qualidade de vida para os doentes, ou seja, em resultados que refletem o propósito maior da Enfermagem: cuidar com presença, mesmo à distância.