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Assim que seguimos as indicações e nos aproximamos do Espaço Familiar Ronald McDonald, no interior do Hospital de Santa Maria, sentimos um prenúncio do que nos espera. Um oásis verdejante surge do lado de fora da janela do corredor de acesso como que a avisar que chegámos a um sítio completamente diferente. Tocamos à campainha e entramos. Logo no hall de entrada percebemos que estamos em Casa. Mães, pais, crianças a brincar, cheiro a comida no fogão. Ainda não sabíamos, mas estávamos a entrar numa “bolha de amor”.
“São oito anos de um projeto que apoia os pais que fazem desta a sua casa durante o dia no hospital, enquanto têm os seus filhos em tratamento”. Quem nos recebe é Ana Patacho, gestora do espaço da Fundação Infantil Ronald McDonald, que, desde 2017, já acolheu 3764 famílias no Hospital de Santa Maria, 571 só este ano.

Na véspera do seu 8º aniversário, que se comemora neste sábado, 12 de Julho, fomos conviver com os que aqui coabitam. Encontrámos uma mãe que veio tomar o pequeno almoço. Mas antes de voltar a subir ao internamento para perto do filho foi convidada para uma massagem. Nessa manhã, um grupo de voluntários da organização Zaorch, que aqui colabora semanalmente, veio para isso. “Mesmo que não consigamos desligar psicologicamente do que nos traz aqui, pelo menos a parte física recebe este tão merecido mimo”, referem depois do procedimento.
Quando as famílias chegam ao hospital, seja à Urgência de Pediatria ou aos serviços de internamento, são recebidas com um Kit de Acolhimento Hospitalar, muitas vezes pelas mãos das voluntárias da Fundação que também estão nos Serviços ou consultas ou pelas próprias enfermeiras, onde ficam a saber da existência deste espaço, no piso -1.
Acolhimento aos pais




Joana Pereira e Carla Santos, assistentes da ULSSM destacadas para este projeto, explicam como tudo funciona: que podem fazer as refeições aqui, que podem tomar banho, podem lavar roupa. Muito útil para quem está a “viver” no hospital. “Ao fim de uns dias, já não tinha roupa lavada”, desabafa uma utilizadora.
Carla cozinha os seus pratos angolanos e mata saudades de uma vida antes do Hospital, em casa com todos os filhos. “Às vezes vêm visitar-me aqui, porque sou a única que pode estar com a minha filha, e não tenho ido a casa”.
Sueli Gomes, por exemplo, só conheceu este serviço um mês depois de o filho estar internado. Hoje, o Diego tem 19 anos, mas continua a vir às consultas de acompanhamento. “Dava-lhe muitas vezes o almoço nos bancos das salas de espera das consultas. Antes de sair de casa aquecia muito tempo a comida para vir bem quente. Aqui é muito mais confortável”.
Que o diga Ana Andrade, cujo filho permaneceu um ano neste hospital. É de Peniche, mas continua a vir todas as semanas. Trata esta casa por tu. “Aqui fiz amizades para a vida. Partilhei angústias, ansiedades e também ganhei a força tão necessária para os momentos mais difíceis”.
Almoço de família




Esta quarta feira, o almoço foi cozinhado e servido pela Associação Bel Portugal, através do seu projeto “Actors for Good”. Diversas mães juntam-se à mesa e é assim que muitas vezes se conhecem e partilham experiências, fazem amizades e dão força umas às outras. “Muitas vezes ouvimos dizer que esta casa foi a sua salvação e que aqui encontraram tranquilidade e paz. Que não sabem como poderiam ter aqui estado sem este apoio”, congratula-se Ana Patacho, que conhece praticamente todos os que aqui se cruzam.
Tudo é como em casa, não só a decoração, mas sobretudo pelo ambiente que se vive, onde pode haver lugar a preocupações e por vezes alguma tristeza, mas onde se sente o amor no ar. “É muito gratificante. É saber que fazemos a diferença, que impactamos a vida das famílias que estão a passar aqui períodos muito difíceis, mas que conseguimos criar laços que dão continuidade ao apoio, que prevalece no tempo”.
O projeto ainda é uma criança, pelo que crescer está no horizonte. “Estamos a trabalhar para chegarmos a uma Casa Ronald MacDonald não só para durante o dia, mas onde os pais possam dormir, enquanto as crianças estão em tratamento hospitalar”. Bem acolhida pelo hospital, esta ideia está a dar os primeiros passos para que se torne realidade num futuro próximo. O objetivo é proporcionar uma experiência mais leve e humana a quem por aqui passa.