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A decisão do Ministério da Saúde de tratar todas as pessoas em Portugal infetadas com o vírus da hepatite C tem dez anos. Uma história que se confunde com a da criação de uma equipa multidisciplinar da ULS Santa Maria, liderada pelo Prof. Rui Tato Marinho, que, dois anos antes, em 2013, tinha iniciado os primeiros ensaios clínicos de um tratamento inovador, com 16 doentes, bem tolerado pelos doentes.
Célia Francisco, do secretariado do Serviço de Gastrenterologia da ULSSM, recorda-se bem desses primeiros tempos, em que integrou a equipa liderada pelo agora Diretor Clínico da instituição, que já tratou mais de 3 mil casos na ULSSM. “Contactei os doentes todos um a um. Foi algo inédito porque os tratamentos anteriores tinham muitos efeitos secundários e não tinham a eficácia do novo medicamento que surgiu na época.”.
Também a enfermeira Isabel Tavares esteve envolvida no tratamento de doentes com hepatite C. “Foi uma revolução. As pessoas melhoraram muito a sua qualidade de vida”. Na altura integrou uma equipa multidisciplinar para chegar ao maior número possível de doentes. “Havia um plano traçado para abranger populações de maior risco, junto do Estabelecimento Prisional de Lisboa e em articulação com as instituições de solidariedade social, como a Vida e Paz, que chegavam aos doentes, proporcionando-lhes o acesso à terapia”.
O objetivo traçado pela Organização Mundial da Saúde é erradicar a hepatite até 2030. Calcula-se que cerca de 170 milhões de pessoas tenham hepatite crónica C em todo o Planeta, dos quais 40 mil em Portugal.
Quanto mais precoce for o diagnóstico, mais êxito terá o tratamento. É importante fazer o teste. “Todos devíamos fazer o teste pelo menos uma vez na vida”, salienta Rui Tato Marinho. “Trata-se de uma doença silenciosa, pelo que quase 40 por cento dos que contraem o vírus têm doença avançada e, por conseguinte, têm maior risco de evoluir para cancro do fígado”.
A Semana Mundial das Hepatites tem o objetivo de sensibilizar para o impacto destas doenças, incentivar a investigação e proporcionar o maior acesso possível aos rastreios e tratamentos.
Apesar de ter tratamento definitivo, a hepatite é depois da Covid-19 a doença viral mais mortal em todo o Mundo.
Sublinhe-se que as hepatites B, C e D são transmitidas através da troca de fluídos orgânicos como relações sexuais, injeções com material contaminado, pelo que a prevenção assume uma enorme relevância.